Uma nova tecnologia de prevenção ao HIV, o vírus da aids, a síndrome da imunodeficiência adquirida, começa a ser oferecida na cidade de São Paulo nesta quinta-feira, 18. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) consiste no uso de medicamentos antirretrovirais (ARVs) por soronegativos antes de uma exposição de risco ao HIV.
A prioridade para a PrEP são as populações-chave para a resposta ao
HIV que vivem em situação de vulnerabilidade ao vírus e mantêm relações
sexuais sem uso do preservativo, como profissionais do sexo, homens e
mulheres trans, casais sorodiferentes (quando um tem HIV e o outro,
não), gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH).
O supervisor de visual merchandising Paulo Rodrigo Silva
Gonçalves, de 36 anos, usa a PrEP há três anos. Ele é um dos voluntários
da fase de pesquisa do programa, que agora chega às populações-chave.
Gonçalves segue o protocolo do programa, que indica o uso do
preservativo, mas ressalta que a PrEP foi importante para os momentos de
vulnerabilidade.
“Tive parceiros soropositivos, por isso, foi importante eu
participar do programa. Indico a PrEP, principalmente para quem tem
parceiros soropositivos e para qualquer outra questão, porque é muito
vasta a opção de usar esse medicamento e por vários motivos”. Gonçalves
diz que não sentiu efeitos colaterais.
Na fase inicial, a profilaxia está disponível no Centro de
Testagem e Aconselhamento (CTA) de Santo Amaro, na zona sul, bem como
nos serviços de Assistência Especializada Butantã, na zona oeste, de
Fidélis Ribeiro, na zona leste, e no de Ceci, na zona sul. Em fevereiro,
a PrEP chega ao CTA Pirituba, na região norte.
A Profilaxia Pré-Exposição será oferecida também no Serviço de
Extensão ao Atendimento de Pacientes HIV/Aids – Casa da Aids – Faculdade
de Medicina da Universidade de São, Ambulatório de HIV/aods da Escola
Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e no
Centro de Referência e Treinamento (CRT) em DST/Aids. No site do
Ministério da Saúde há informações detalhadas para os interessados em
usar o medicamento.
Além da capital paulista, 21 munícipios de 10 estados e o
Distrito Federal vão disponibilizar a Profilaxia Pré-Exposição. São
cidades como Manaus, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife,
Curitiba, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O Brasil é o primeiro país da
América Latina a contar com a PrEP entre as alternativas de prevenção ao
HIV em seu sistema público de saúde.
Atualmente, a tecnologia é comercializada na rede privada dos
Estados Unidos, da Bélgica, da Escócia, do Peru e do Canadá e está
disponível na rede pública de saúde da França e da África do Sul. A
Profilaxia Pré-Exposição é recomendada pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) desde 2012.
A PrEP faz parte de uma nova abordagem para resposta ao HIV.
Trata-se de um cardápio de tecnologias de prevenção ao HIV/Aids, que
inclui o tradicional preservativo, mas também a testagem, tratamento,
imunização, diagnóstico, redução de danos, prevenção à transmissão
vertical e a Profilaxia Pós-Exposição, que dão à pessoa e ao
profissional de saúde a possibilidade escolher uma metodologia ou
combinar várias que se adaptem às necessidades e ao momento de vida do
usuário.
Medicação X Vacina
Como ainda não existe vacina contra o vírus HIV, a PrEP é uma
tecnologia que impacta diretamente na resposta ao vírus, diz a diretora
do DIAHV, Adele Schwartz Benzaken. “A PrEP é uma medicação usada na
terapia antirretrovitral. As concentrações desse medicamento ficam na
genitália dos usuários, o que impede que o vírus entre no organismo da
pessoa porque inibe uma enzima e faz com que a pessoa não se infecte.
Existe uma grande diferença: uma [a vacina] é no sistema imunológico, e
esse é um medicamento para a terapia antirretroviral”.
Na opinião de Adele, a adesão é importante para o sucesso da
terapia. “O comprimido tem que ser tomado diariamente para fazer essa
proteção, pois, se isso não for feito, a concentração do medicamento não
é suficiente para inibir o vírus”.
Adele diz que os efeitos colaterais da medicação são apenas
gastrointestinais, como náuseas, mas a eficácia é alta. “A taxa de
eficácia é de quase 100%, quando se tem a adesão. Depende muito do
usuário; não dá para tomar somente um dia. Em países da Europa, a PrEP
mostrou-se como uma das terapias mais eficazes para reduzir a
incidência, principalmente entre homens que fazem sexo com homens.”
Adele ressalta que o uso contínuo da PrEP não leva a uma tendência de
diminuição do uso do preservativo e à incidência de outras doenças
sexualmente transmissíveis nos grupos de voluntários observados. “O que
alguns estudos controlados têm demonstrado é que a PrEP aumenta a adesão
ao preservativo. Também é uma forma de aumentar a cobertura do
diagnóstico do HIV, porque as pessoas que têm vulnerabilidade procuram o
serviço de saúde para retirar a PrEP. Assim a consulta com o
profissional de saúde pode levar essa pessoa a incorporar mais vezes o
uso do preservativo”.
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